sexta-feira, 1 de março de 2013

Baú de 1999

Nada muda
só a lua gira.
O luar é sempre o mesmo,
sempre o mesmo giro.

Minha mente aflita, confusa
 selenita.
Habita-a o movimento.

em direção: onde?
neste tempo: quando?
sempre rumo ao passado
perseguindo o futuro
eu ando.
Do fundo do Baú, dos velhos cadernos de rabiscos...

1990?
Nosso amor é algo
que transcende e atravessa a claridade
que há no céu esmaecida.
Nosso amor vem de um lugar distante
nosso amor, é um amor errante
sem medo e sem medida

1993

Das duvidas senhores, fiz um ramalhete
e as pus enfileiradas em ordem crescente
da mais tola à mais sublime:
que fazer com a barriga?
e o quebrado do dente?
vai na igreja e se persigna?
mas eu nem sou crente!

"Acaso, amoral e extremamente violento"
frase de filme, perdida  na memória
falando sobre o universo
esta metáfora que se mostra todas as noites
mas na verdade, já acabou faz tempo.

1994

Qual a cara da falsidade?
será feia ou bonita? terá que idade?
Será que acredito no que ela me diz?
ou deixo prá lá! não foi por maldade.

Qual será o motivo
de tamanha leviandade?
Será normal na adolescência?
ou fui eu que já passei da idade.

Cuidado menina! a amizade
é um bem mais que precioso.
Não se acha com facilidade.

Além do mais, mentira tem perna curta!
O nariz cresce, o rabo espicha...
e eu não sou nada seu, não há necessidade.


1995

Certas horas, quando vejo
teu antigo olhar, antes tão perto,
sorrindo como te lembro sempre
forte, como o sol no deserto.

É que penso estar sempre tão longe
a chama pura do amor que espero,
pois vejo-me sempre onde não quero
e perco-te assim quotidianamente.

Vou em frente, porém me sinto mais velho
mais triste, estrela a reclamar sua aresta;
e hoje doeu-me tanto a tua distância...
que faço-te poemas, pois, o que me resta?
Meu amor só te consigo dar em versos
e da minha dor só um soneto se levanta.


sábado, 23 de fevereiro de 2013



Todas as sextas-feiras em Olinda, acontece uma serenata pelas ruas da cidade.
Minha primeira participação.
Obrigado Elis pela foto ótima.

Ilusões Noturnas


ILUSÕES NOTURNAS

madrugada
você, certeza,
está enchendo o cu de cerveja
num bar qualquer
acompanhada

os anjos da noite aparecem do nada
e sempre tem um expert
com uma teoria nova pra te contar
e você vai acreditar
em tudo

tantos astros no céu
não me iludo
para uma noite dessas
tenho mais é que tirar o chapéu

mas essa dor
mas esse ciúme
sou um péssimo pagador
de promessas, eu sei
acho que já vi esse filme
estamos ok

você aí, eu aqui
à mão, um livro
e não, o veneno

estamos melhores do que antes
mas como um mundo tão pequeno
pode nos guardar tão distantes?

antonio thadeu wojciechowski

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Muito bonito.

Música bonita e imagens bonitas. Casamento 10!

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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Ausência



Haverei de levantar a vasta vida
que ainda agora é teu espelho:
cada manhã haverei de reconstruí-la.

Desde que te afastaste,
quantos lugares tornaram-se vãos e sem sentido, 
iguais à luz do dia.

Tardes que foram o nicho da tua imagem,
músicas com que sempre me aguardavas,
palavras daquele tempo,
eu terei que quebrá-las com minhas mãos.

Em que buraco esconderei minha alma
para que não veja tua ausência
que como um sol terrível, sem acaso,
brilha definitiva e desapiedada?

Tua ausência me rodeia
como a corda na garganta,
como o mar em que se afunda.

Jorge Luis Borges
Aviso aos Náufragos
(Paulo Leminski)

Esta página, por exemplo,
não nasceu para ser lida.
Nasceu para ser pálida,
um mero plágio da Ilíada,
alguma coisa que cala,
folha que volta pro galho,
muito depois de caída.

Nasceu para ser praia,
quem sabe Andrômeda, Antártida
Himalaia, sílaba sentida,
nasceu para ser última
a que não nasceu ainda.

Palavras trazidas de longe
pelas águas do Nilo,
um dia, esta pagina, papiro,
vai ter que ser traduzida,
para o símbolo, para o sânscrito,
para todos os dialétos da Índia,
vai ter que dizer bom-dia
ao que só se diz ao pé do ouvido,
vai ter que ser a brusca pedra
onde alguém deixou cair o vidro.
Não e assim que é a vida
?
de Clarice, que nós tanto gostamos. do Livro dos Prazeres.


"Quero que isto que é intolerável continue porque quero a eternidade. Quero esta espera contínua como o canto avermelhado da cigarra, pois tudo isso é a morte parada, é a eternidade de trilhões de anos das estrelas e da Terra, é o cio sem desejo, os cães sem ladrar.
É nessa hora que o bem e o mal não existem. É o perdão súbito, nós que nos alimentamos com o gosto secreto da punição. Agora é a indiferença de um perdão. Pois não há mais julgamento. Não é um perdão que tenha vindo depois de um julgamento. É a ausência de juiz e condenado."

Amar Você

Esse cara, eu também gosto muito.

Paulo Leminski


Amar você é coisa de minutos
A morte é menos que teu beijo
Tão bom ser teu que sou
Eu a teus pés derramado
Pouco resta do que fui
De ti depende ser bom ou ruim
Serei o que achares conveniente
Serei para ti mais que um cão
Uma sombra que te aquece
Um deus que não esquece
Um servo que não diz não
Morto teu pai serei teu irmão
Direi os versos que quiseres
Esquecerei todas as mulheres
Serei tanto e tudo e todos
Vais ter nojo de eu ser isso
E estarei a teu serviço
Enquanto durar meu corpo
Enquanto me correr nas veias
O rio vermelho que se inflama
Ao ver teu rosto feito tocha
Serei teu rei teu pão tua coisa tua rocha
Sim, eu estarei aqui

Bonjour


Amor numa freqüência muito alta,
amor agudo.
Como um solo de guitarra
no blues mais lindo do mundo...

Desperdiçando Chico Buarque


Ah, nunca perdemos a noção da hora, 
                     nunca jogamos tudo juntos fora. 
                                                       Sim: hei de partir.

Ah, se ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios, 
                                  Rompi com o mundo, queimei meus navios
                                                    Me diz pra onde é que inda posso ir?

Se nós nunca fizemos travessuras em noites eternas, 
                            nem confundimos nada as nossas pernas
                                            Diz com que pernas eu devo seguir?

Se entornaste a nossa sorte pelo chão, se na bagunça do teu coração, 

                                                             meu sangue errou de veia e se perdeu...
Como em nenhum armário embutido, meu paletó enlaçou o teu vestido,    

                                                                          nem meu sapato nunca pisou no teu

E se nunca nos amamos feito dois pagãos,
                                e teus seios nunca estiveram em minhas mãos
                                                            não precisa explicar com que cara eu vou sair.

Não, acho que estás me fazendo de trouxa
Te dei meus olhos pra tomares conta
Não responda: hei de partir.

Ainda carnaval

Ainda carnaval

Ao nascer do dia, na terça,
no Alto da Sé em Olinda, 
procurei Deus para fazer uma prece.
Só vi os raios do sol
e muita ladeira que desce.

Quadrinha





Eu não sei do mar que rebenta

Eu não sei dos pássaros, o alarido
Eu só sei do ar que me falta
Ao te ver neste vestido florido.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Poucos se importam


Um dos livros mais importantes para mim, nestes dias de compreensão do sentido da palavra "maníaco-depressivo".

Luto e Melancolia - Sigmund Freud
Ed. Cosac Nayfi  tradução: Marilene Carone

Trechos da introdução de Maria Rita Kehl

"O complexo melancólico se comporta como uma ferida aberta."

pg. 21
Mesmo os mais graves episódios de tormento melancólico tendem a desaparecer depois de algum tempo e dar lugar a um estado de humor radicalmente oposto: a mania.
A mania não determina o fim da melancolia; ela é apenas o outro polo dessa "loucura cíclica" a que hoje a psiquiatria chama de depressão bipolar. Durante o episódio melancólico, inúmeras batalhas se travam entre o impulso para abandonar o objeto e o seu oposto, a tendência da libido em se manter ligada a ele. O palco dessas batalhas é o inconsciente, "reino dos laços mnemônicos de coisas".

pg.27
Os humores (na medicina antiga), seriam também regidos por planetas, sendo Saturno, o último planeta visível a olho nu - o mais distante e isolado que os antigos conheciam - aquele que rege a melancolia. É importante considerar que a doença, aqui, não é entendida como um defeito da personalidade nem como um erro da vontade do doente, mas como conseqüência do acaso, explicável pela posição dos astros no momento de seu nascimento.
O desequilíbrio causado pela bile negra torna o melancólico propenso a ser, "quase no mesmo instante muito quente e muito frio". Mas é esta mesma possibilidade (que ele não escolheu) de habitar extremos que torna o melancólico  aberto à criação poética. Ou seja: a "tornar-se outro". [...] Era este o modo como os antigos entendiam a capacidade do poeta de inventar o que não existia. O outro modo de "tornar-se o outro" seria a loucura.

assim que for lendo mais, vou compartilhando
Eu sei,
eu sou um boboca
e essa rima oca
de uma paixão louca
que naturalmente pipoca
espouca - como um vulcão
 
Na verdade eu queria um bitoca
            desta boca mágica
                        belíssima
                                    erótica.
Este não é meu.
É de um ex-aluno, muito "gente boa" que me encontrou no Facebook.



Às vezes bate uma saudade não sei do quê
De um momento que ñ sei quando houve
Ou lugar que ñ sei onde é.

Um aperto no peito, uma incompletude

Sai como som que ninguém ouve
Filme que ninguém vê
Não sei se isso tem nome
Ou se é só saudade de você

Otto Peyerl

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Falso-Poeta


Falso-Poeta (carnaval de 2013)

Eu vi uma namorada dar um abraço tão gostoso no namorado
que a inveja piscou sua luz horrível dentro de mim.

Eu sou um falso-poeta.
Poetas verdadeiros transformam esta dor em Arte.
Minha dor é apenas dor.
Falta-me a nobreza de permanecer na dor.
Eu quero mais é que isto acabe, e um novo amor apareça,
e a felicidade volte novamente.
Por isso eu sou um falso-poeta.

Verdadeiros poetas são grandes punheteiros
que passam anos presos a amores impossíveis...
Eu não.
Escrevem centenas de páginas incompreensíveis em construções esdrúxulas
porque acreditam no hermetismo...
(o que será que rima com fúcsia???)
Eu não.

Para mim, palavra boa é a que comunica.
Por isso eu sou um falso-poeta.

Antigamente quando me chamavam de “poeta” eu achava lindo.
Hoje não.

Me desculpe meu querido Bukowski, mas um rabo decente, hoje custa mais que 50 dólares.
Poesia não paga um rabo decente, por isso eu sou um falso-poeta.

Eu quero é ser empresário. Ter minha própria Mercedes Benz.
Não pensar na conta do Banco pelo menos uma vez...
Putas de 10.000 reais, isso sim é que é vida.

Eu quero é lançar um livro.
Talvez de tão falso, eu ainda faça sucesso.

Sérgio Deslandes

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

ODE DESCONTÍNUA E REMOTA PARA FLAUTA E OBOÉ. DE ARIANA PARA DIONÍSIO.

I
É bom que seja assim, Dionisio, que não venhas.
Voz e vento apenas
Das coisas do lá fora
E sozinha supor
Que se estivesses dentro
Essa voz importante e esse vento
Das ramagens de fora
Eu jamais ouviria. Atento
Meu ouvido escutaria
O sumo do teu canto. Que não venhas, Dionísio.
Porque é melhor sonhar tua rudeza
E sorver reconquista a cada noite
Pensando: amanhã sim, virá.
E o tempo de amanhã será riqueza:
A cada noite, eu Ariana, preparando
Aroma e corpo. E o verso a cada noite
Se fazendo de tua sábia ausência.

II
Porque tu sabes que é de poesia
Minha vida secreta. Tu sabes, Dionísio,
Que a teu lado te amando,
Antes de ser mulher sou inteira poeta.
E que o teu corpo existe porque o meu
Sempre existiu cantando. Meu corpo, Dionísio,
É que move o grande corpo teu
Ainda que tu me vejas extrema e suplicante
Quando amanhece e me dizes adeus.

III
A minha Casa é gurdiã do meu corpo
E protetora de todas minhas ardências.
E transmuta em palavra
Paixão e veemência
E minha boca se faz fonte de prata
Ainda que eu grite à Casa que só existo
Para sorver a água da tua boca.
A minha Casa, Dionísio, te lamenta
E manda que eu te pergunte assim de frente:
À uma mulher que canta ensolarada
E que é sonora, múltipla, argonauta
Por que recusas amor e permanência?
VI
Três luas, Dionísio, não te vejo.
Três luas percorro a Casa, a minha,
E entre o pátio e a figueira
Converso e passeio com meus cães
E fingindo altivez digo à minha estrela
Essa que é inteira prata, dez mil sóis
Sirius pressaga
Que Ariana pode estar sozinha
Sem Dionísio, sem riqueza ou fama
Porque há dentro dela um sol maior:
Amor que se alimenta de uma chama
Movediça e lunada, mais luzente e alta
Quando tu, Dionísio, não estás.
VIII
Se Clódia desprezou Catulo
E teve Rufus, Quintius, Gelius
Inacius e Ravidus
Tu podes muito bem, Dionísio,
Ter mais cinco mulheres
E desprezar Ariana
Que é centelha e âncora
E refrescar tuas noites
Com teus amores breves.
Ariana e Catulo, luxuriantes
Pretendem eternidade, e a coisa breve
A alma dos poetas não inflama.
Nem é justo, Dionísio, pedires ao poeta
Que seja sempre terra o que é celeste
E que terrestre não seja o que é só terra.

IX
           “Conta-se que havia na China uma mulher
   belíssima que enlouquecia de amor todos
   os homens. Mas certa vez caiu nas
   profundezas de um lago e assustou os peixes.”

Tenho meditado e sofrido
Irmanada com esse corpo
E seu aquático jazigo
Pensando
Que se a mim não deram
Esplêndida beleza
Deram-me a garganta
Esplandecida: a palavra de ouro
A canção imantada
O sumarento gozo de cantar
Iluminada, ungida.
E te assustas do meu canto.
Tendo-me a mim
Preexistida e exata
Apenas tu, Dionísio, é que recusas
Ariana suspensa nas tuas águas.

X
Se todas as tuas noites fossem minhas
Eu te daria, Dionísio, a cada dia
Uma pequena caixa de palavras
Coisa que me foi dada, sigilosa
E com a dádiva nas mãos tu poderias
Compor incendiado a tua canção
E fazer de mim mesma, melodia.
Se todos os teus dias fossem meus
Eu te daria, Dionísio, a cada noite
O meu tempo lunar, transfigurado e rubro
E agudo se faria o gozo teu.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Bisavô Benedito, um dos primeiros professores de música de Curitiba, Vô João e seu bigodão.
E a orquestra... impressionante.